Estavamos subindo o morro e ela resmungava de cansaço. Ofereci levá-la no cólo até lá em cima, mas ela hesitou, de primeiro momento. E justo quando estava distraído pulou em minhas costas agarrando-me pelo pescoço. Cambaleei para trás, e reculperei o equilíbrio; segurei as suas pernas pelas coxas e ela encosto o queixo em meu ombro.
- Ah! Como é bom não precisar subir esse morro a pé. – sorri.
- Está confortavel ai?
- Não, mas não tenho outra escolha de meio de transporte – ela brincou e eu entrei no jogo.
- Tem sim, se eu me cansasse te deixaria aqui mesmo.
- Mas você não vai se cansar, eu confio em você.
- Quem garante?
- Você é forte.
- Prefiro dizer que você é que é magra.
- Fico lisongeada em saber disso.
- Segure firme...
- Por quê? – Saí correndo em um impulso e ela soltou um gritinho. A subida estava quase terminando. Chegando lá em cima, parei.
- Que foi? Acabou o gás?
- Não. Já chegamos, é hora de você descer senhorita. – Estava exausto. Ela começou a descer.
- Está bem, não é muito confortável aí sabia? Só vou descer porque não quero machucar minhas costas, se não você me levaria até em casa. – disse, em um tom de sarcasmo.
- São só as suas costas, né? Eu é que deveria estar reclamando. – ri.
Começamos a caminhar.
- Mas você disse que eu era leve, estava mentindo?
- Não, só me expressei mau. – baixei a cabeça.
- Estou brincando seu bobo! – ela tentou me animar, mas era tarde demais.
- Você não existe.
- Isso é o que você pensa.
- Você é o que estou pensando. – paramos, e sentei no banco de uma praça que havia ali. Estranhamente, não tinha ninguém.
- Sou uma obra sua e possuo pensamentos, e como diz nossa filosofia, penso logo existo.
- E por ser uma criação minha, você pensa do mesmo jeito que eu.
- Então você está dizendo que possui um lado feminino? – ela deu um sorriso malicioso.
- Não existe essa de pensamento feminista, a única distinção para mim de homem e mulher era o corpo, mas até isso, se fomos olhar por outro lado, já não distingue.
- Que grande besteira!
- Também acho isso, já nem sei o que estou dizendo, estou perdido em meu mundo, sendo você uma parte dele.
- O que quer dizer com isso?
- Que mereço levar um ponta-pé para ver se acordo.
- Se quiser eu posso fazer isso. – ameaçou, novamente brincando.
- De você não irá fazer efeito, mas se isso te fizer feliz, pode dar a vontade.
Ela sentou ao meu lado e me abraçou.
- O que vamos fazer agora?
- Essa é uma resposta que tento encontrar faz tempo.
- Não quero perdê-lo.
- Logo vai acabar, não se preoculpe.
- Acabar o que?
- Tudo.
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