domingo, 27 de novembro de 2011

Á Uma Bela Apresentação

Música para acompanhar:

Ouvia-se os pingos da chuva que batiam delicadamente no telhado, na janela, no vidro. De dentro da casa ele observava o dançar das gotas, que deslizavam-se, aos poucos e lentamente, pela ventana.Seguia seus passos, seu ritmo, com os dedos. Vez ou outra as fazia dançar como queria. Escolhia os pares ou grupos, fazia caminhos. Para gastar tempo? Para esquecer o tédio? Ou, simplesmente, para brincar?. Não, não e não.


Naquele momento, absorto pelo som que se produzia dentro, e não fora. A combinação do estalar da chuva na tela, no chão e no teto. Do leve atrito entre o toque dos dedos e a superfície transparente e lisa. O silêncio das plantas. Dos sofás brancos. Da televisão. Do rádio, de madeira, antigo, em formato de "U". Menos da caixinha de música azul-celestial que docilmente tocava "La Valse d'Amelie". Na harmonia que tudo isso se transformava. Percebia-se que -- não só os dedos, como também a mão e a cabeça -- realizavam movimentos sutis, de um lado ao outro. Mexiam-se conforme o balanço. Como se estivessem hipnotizados. Como se fossem copiados, imitados. Mas, ali, naquela janela, não havia nada.

Ou havia?

Havia?!

Havia. Pelo menos para o garoto que parecia contemplar o nada, havia. Ali mesmo, na tela transparente. Via-se brinquedos, vivos. Via-se cores girando rapidamente em cima de um palco, como um peão. Via-se bonecas, com seus corpos, braços e pernas de plástico e restringidos movimentos, seguindo o compasso da canção, e do boneco que cada hora dava corda para um coração. Via-se a magia que os tornava, tomava, iguais. Iguais na emoção, no sentimento. Iguais na forma de expressão. Iguais na razão pela qual acordaram, comemoravam e agitavam. Via-se várias cenas separadas, fragmentos do que outrora havida sido. Do início e fim. Do final e do começo. Do meio ao meio. De peões e cores. Bonecos e bonecas dançando juntos. A pequena valsa. Os gestos doces. Pareciam até bailarinas. Ou seria melhor dizer, que as bailarinas se parecem com bonecas?. Uma coisa era inegável. Em toda sua vida, qualquer lugar que fosse ou situação, que aquela música tocasse. Logo vinha a imagem daquela apresentação, e, com ela, a saudade dos brinquedos.
Saudades, daquela diversão.

Saudades, daquela imaginação.

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