quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Não é Você Quem Escolhe


- Bem vindo! - Disse o senhor de idade, contente, atrás do balcão de recepção.

- É... Obrigado, eu acho. O garotinho comentou, adentrando com cuidado na livraria.

- É a sua primeira vez? - Perguntou lhe estendendo a mão e com uma expressão animada. - Desculpe-me a euforia, é que não recebo tantas visitas, ainda mais, de uma criança.

O garoto levantou o braço e o cumprimentou; e com tom de receio, falou: - Sim... .Deixando um rastro de pensamentos que insistiam em se manter dentro de sua cabeça.

- Não se preocupe, não precisa tentar puxar assunto. Conheço bem como vocês sãos. - explicou, despreocupadamente: Ande, eu vou lhe ajudar. Só um minuto... 

Enquanto ele ajeitava os livros e papéis rapidamente, mantendo a empolgação. O garoto arriscara perguntar:

- Vocês quem?

- Vocês, sabe? Tímidos, introspectivos, introvertidos, reservados, seja lá o que for. Mais do que isso, são pessoas que vivem aqui dentro... - apontou o dedo indicador pra cabeça enquanto dava a volta no balcão. - Por isso buscam histórias: para expandir a imaginação, seu mundo interior - afinal, qual melhor lugar para se inventar? Vamos! Diga o que está procurando... - Enquanto isto, conduzia o garoto para dentro dos estantes com a mão em suas costas.

Já a criança, não entendera muito o que senhor havia lhe dito, entretanto, sentia-se confortável em sua presença.

- Bem... eu não sei. Vim aqui porque algo parecia estar me chamando. Não sei ao certo... só senti uma vontade de visitar este lugar. - Lembrando-se de como as pessoas que conheciam eram, e como julgariam, acrescentou ressentido: - Acho que estou ficando louco...

- Besteira! - O senhor falou, descontraindo o menino - Olha só, eu bem que estava ouvindo de manhã os livros cochicharem.

- Como assim?! Livros não falam...

- Ah! Falam sim, se não você não teria vindo até aqui. Fique em silêncio, feche os olhos e concentre-se.

O rapaz meio desacreditado, sujeitou-se a fazer o que o senhor propunha. Ao cerrar os olhos, ouvi sussurros diversos: pessoas pedindo ajuda, outras resmungando, vozes conjurando magias, suplicando perdão. O garoto abriu os olhos, quase instantaneamente. - O que foi isso?!

- Fascinante, não é? - O bibliotecário explicou. - Somente as pessoas que possuem sensibilidade conseguem ouvir. Certamente, já deve ter escutado algo do tipo...

- Não sei do que o senhor está falando...

- Senhor? Não, me chame de Ton Ides. Nunca ouviu essa história? "Não é você quem escolhe o livro, é ele quem te escolhe"... "É a varinha que escolhe seu dono"... "É a profissão quem escolhe você"... "A música que me escolheu"... Nunca reparou nisso?

- Pensando bem... Mas como pode isto, Ton I...?

- Ides. Bem, digamos que o tal "livre-arbítrio", não é tão livre assim. Não estou dizendo pelo lado da religião, mas pelo lado material. Cada pessoa tem uma pré-disposição desde criança a uma determinada área, só que teimamos em ir contra as nossas vontades devido as circunstâncias da vida. Saber ouvir a "voz interior", muitos até sabem, mas não querem. Pois setam para onde a maioria não quer estar, e não quer saber. Mas quando você resolve ouvir sua intuição, as coisas começam a caminhar. Situações que parecem improváveis e até impossíveis de acontecer, acontecem. Tudo para o seu desenvolvimento. E ai a sua vida flui naturalmente. Por isso, não é você quem escolhe, mas a própria vida. Você só escolhe se vai dar ouvidos ou não a ela.

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