Conjure! - Parte 2

- Eu não estou ficando... eu estou louca. - assentiu. Engolindo em seco.

- É mais bonita do que eu pensei. - o gato falou.

- O gato esta falando!, pensou a menina.

Desmaiou.

Era um belo dia de outono, transpirando paz e renovação na floresta de Erwim. As árvores despejavam suas adoráveis folhas velhas ao chão, o vento se encarregava de sopra-las para longe, muito longe. Erguendo o manto de vidas que se extinguem para dar a espaço a nova geração da natureza. Teriam cada folha uma essência própria? E, por mais idênticas que fossem, únicas? Tão macias e generosas, acolhem os pingos da chuva para que não se espatifem no chão. Amortecendo a queda. Deslizando entre dezenas de veias verdes, legítimos colchões florestais. Algumas até repousam no leito da existência, antes de entrarem novamente no círculo infinito.


Um turbilhão de folhas se estendeu ao alto girando, subindo, girando e descendo, formando uma torre marrom. Atraindo mais e mais de suas irmãs, causando um chacoalhar de fragmentos que se partiam e se batiam. O muro em formato de cubo foi se fehando, transformando-se cada vez mais numa forma humanoide. Na rasteira daquela torre, as folham giravam e iam se grudando no ar geométrico interior, como uma múmia enfaixada dos pés a cabeça. Colavam-se, supostamente, em uma pessoa invisível. Gerando um par de sapatos, pernas finas, quadril redondo, uma cintura fina, um busto mediano, os ombros pequenos, um pescoço meio largo e um rosto maduro.

A ventania parara. As folhas atiraram-se rapidamente em diversas direções opostas revelando a figura de uma garota normal. Vestindo uma calça jeans preta que delineava sua curvas; o cinto possuía na frente uma fivela dourada com uma joia escarlate no centro. Uma camisa baby-look também escura. Luvas cortadas ao meio. Ombreiras de metal que pendiam uma capa azul-marinho. Os fios negros de cabelo  presos num rabo de cavalo alto e preso neles, uma diadema de prata.

- De ti, solicito a permissão. Doe-me sua energia e crie a manifestação. Para essa realidade evoco meu animal de estimação. Apareça, minha filha. Apareça, Nina!

A gata surgiu, assim como sua dona. Em seguida, outras quatro pessoas também. Todos homens.

- Você ficou muito boa nisso. - Era Machado, aquele que a iniciara nas artes de conjurar, mestre da legião.

- É verdade. Poucas pessoas conseguem se aperfeiçoar tão rápido. - Disse Magno, o melhor aluno de Machado e aquele que havia ido até sua casa: - Mesmo eu, demorei um mês.

- Com certeza. - falou Esper, ríspido como de costume. Braço direito de Machado e professor-assessor: - É uma aluna exemplar.

- Vocês só sabem babar! Clarice nem é lá grande coisa. - zombou Eça. Ninguém reagiu, conheciam a bastante tempo o humor do rapaz. Famoso por rimar utilizando-se de sarcasmo e ironia, Eça ganhou prestígio com sua peculiaridade: - Vamos! Que eu já estou me cansando.

Os cinco se adiantaram colocando-se em posição, formando um pentagrama. Esticaram os braços a frente e começaram.

- Mergulhe! Mergulhe na substância. Luz divina da vida, derrame sua paz, sua herança. Proteja nossas crianças! - e um círculo branco fosforescente se formou em volta de Magno.

- Derreta! Derreta a instância, da maldade e da destruição. Proteja vosso coração. - Exclamou Esper. E outro círculo branco se formou.

- Mergulhe, derreta, que sapiência! Poupe-me de linguagem poética, livra-me dessa reminiscência. Aproveito meu pedido, para assim lhe dizer. Proteja também aqueles que mal fazem sem saber. - Todos esboçaram um sorriso.

- A ponte da vida é cheia de turbulência. É difícil se equilibrar aos males que todos enfrenta. Por isso lhe peço, se assim permitir. Proteja nos, Proteja a todos e não nos deixe cair. - Foi Clarice quem pronunciara. E o ultimo, o mestre Machado:

- Viaje! Aos céus e as estrelas. No labor da vida, a essência. Viaje! Pois a ti suplicamos fileiras, de desejos e mensagens em letras. Viaje! Pois o que lhe peço, é proteção a existência!